quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Crónicas de uma Estagiária #3 - do (Des)acordo Ortográfico

Eu sou contra o Novo Acordo Ortográfico.
Não pelos motivos pseudo-nacionalistas que tenho ouvido muitas vezes, de que nos estaríamos a "subjugar" de alguma forma ao Brasil, mas sim por razões puramente culturais.
Porque acredito que a riqueza cultural da Língua Portuguesa e da literatura lusófona reside também na diversidade de grafias utilizadas nos países em que se fala e escreve a língua de Camões.
Quando abro um livro de Jorge Amado, não espero - e não quero - que esteja escrito da mesma forma e com a mesma grafia que um livro de Eça de Queiroz, assim como aprecio os acentos circunflexos improváveis que podemos encontrar na poesia de Carlos Drummond de Andrade, por oposição ao Português mais camoniano que encontramos em Pessoa.
No entanto, e apesar das minhas convicções, quis o destino que viesse parar a uma empresa que resolveu adoptar o dito acordo logo a partir dos primeiros dias de 2012, decidindo que todos os conteúdos ligados ao Marketing e à comunicação com o público teriam de ser adaptados de acordo com a nova ortografia.
E quem melhor do que a estagiária para levar a cabo essa vil e entediante tarefa? Aparentemente ninguém.
Assim sendo, e ainda que a contra-gosto, fui obrigada a começar a utilizar o dito acordo no contexto profissional e padeço agora daquilo a que chamo de esquizofrenia ortográfica: chego ao estágio e ligo, ainda que sob protesto, o modo cerebral "acordo ortográfico", mas na minha vida pessoal, seja no blog, no telemóvel, em e-mails, cartas, ou qualquer outra forma de comunicação escrita, continuo a escrever na Língua Portuguesa que aprendi na escola - e faço questão disso.
A continuar assim, prevejo que muito brevemente já não serei capaz de escrever Português, em nenhuma das suas formas, tal será o estado de esquizofrenia e confusão que invadirá o meu cérebro.
Raios partam o malfadado (des)acordo.

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